Permitir-se

Quantas vezes somos tudo ao mesmo tempo, dona de casa exemplar, cozinheira prendada, profissional séria e responsável, amante no maior estilo selvagem, uma amiga doce, uma pessoa o tempo todo culta e inteligente... chega! Hoje eu preciso assumir que vou me permitir muitas coisas... Afinal nem todo dia sou a mulher perfeita da revista de lingerie, nem a profissional perfeita, afinal perfeição não existe, e isso eu preciso repetir todos os dias quando acordo!
Então, dou-me o direito de comer churrasquinho na praça, tomar refrigerante sem medo de engordar, comer uma torta de brigadeiro sem culpa... Permito-me dormir apenas de calcinha confortável, andar de tênis uma vez por semana, não ir a academia numa segunda-feira de chuva...

Tem dias que não sou sexy, não uso calcinha fio dental todos os dias, tem dias que muito mais do que sexy ,sou apenas humana, e esse meu lado que não tem as unhas pintadas é extraordinariamente interessante... Esse lado, não gosta de lavar a louça, fica o dia inteiro de camisola, e escuta pagode de vez enquando, afinal no meu ipad não tem só música clássica, esse meu lado despojado gosta de ler revistas de fofocas, de falar um ´palavrão para aliviar a alma, de xingar o vilão da novela, afinal não enciclopédia o tempo todo, muitas vezes quero ser apenas gibi... Respeite minhas mutações, minhas tranformações, isso me faz ser eu, sendo um milhão de coisas ao mesmo tempo... Hoje sou loira, amanhã quem sabe, afinal acho chato essa gente que não muda, que não se transforma... Hoje sou ninfeta, amanhã mulher fatla, no outro dia quero apenas poder dormir em paz...

Eu me permito, permito fazer o que tenho vontade, permito-me ser humana, permito-me ser divina na minha humanidade... ser simples de vez enquando é a melhor de todas as receitas!

Conheça-me e desvenda-me, encontro sensualidade no meu lado casual, responsabilidade no meu lado irresponsável, sabedoria na minha imaturidade, e beleza na minha feiura, assim descobrirás na verdade quem eu sou, e se mesmo assim desejar ficar ao meu lado, permanecer na minha vida, ai sim, terás o direito de experimentar todo o que posso oferecer, minhas inconstâncias como lua, mas meu calor e luz como o sol...

Uma boneca? Será?

Eu sei, todas as mulheres gostam de ser tratadas como  uma deusa, mas vamos combinar, nada mais chato do que ser deusa vinte e quatro horas por dia... deixai-me ser mulher... Passemos da mulher da cantiga e cheguemos a mulher do Realismo, me trate como deusa, mas por favor não esqueça de que por essência, sou Bovary... me tire do sério, me faça enlouquecer, pegue no meu pescoço, use as mãos, e me faça sentir viva!
Nada mais medonho do que ser tratada como boneca de porcelana, alguém inatingível, por favor, que isso não dure mais do que alguns dias, e depois me descubra, me abra, me vire pelo avesso...  eu deixo me despenteie, me amasse, me aperte e se preciso me bata! Me tire do sério, me enlouqueça com o olhar, e me mostre que eu sei seduzir, me mostre que além das minhas palavras, meu olhar também fala ao teu corpo, deixe eu te tocar, morder e todos os outros verbos de todas as conjugações que sua imaginação  achar ser necessário... Me faça esquecer das horas, dos minutos, deixe apenas que eu seja a mulher que adoro ser...

Olhos de Ressaca

"Retóric

a dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca."

( Dom Casmurro, Machado de Assis, cap

. 32 )

Começo postando Machado, meu amado Machado, alguém que como poucos soube lidar com duas maravilhas tão igualmente encantadoras, O Rio de Janeiro e a alma feminina, lembro do primeiro livro machadiano que li, Dom Casmurro, o meu preferido desde sempre, li em menos de um dia e confesso que ali, diante daquela leitura descobri duas coisas que mudariam a minha vida para sempre, a primeira foi minha profissão Letras, descobrir o que está atrás das linhas, escondido em recôndidos mais escondidos do imaginário do leitor... A segunda, sobre a qual eu disserto aqui, é o poder do olhar... quando li a descrição do olhar de Capitu, comecei a analisar os olhas, e isso foi um grande passo na construção da minha sensibilidade, do meu caráter, na minha persepção e na minha sensualidade... Logo o instinto feminino da personagem entrou em mim, e não falo da mulher dissimulada que muitos rotulam em Capitu, falo da menina com olhos de mulher, e da mulher com olhos de menina, característica tipíca de todas as mulheres... 

Como os olhos enfeitiçam, tive um amigo que falava que eu enfeitiçava pelos olhos... ficava abismada com isso, com esse tal poder que não conhecia de verdade, e achava ser mais uma cantada de um homem querendo me conquistar, até que percebi que esse poder é instintivo a todo ser humano, falamos com os olhos, melhor do que com as palavras, se somos sinceros conseguimos falar horas e horas no silêncio de um olhar... hoje entendendo como antigamente os filhos respeitavam os pais apenas pelo  olhar deles,  hoje entendo por que os relacionamentos duravam mais, e por que as pessoas eram mais amigas... Elas se olhavam mais e falavam menos. As melhoras noites que passamos são aquelas que somos olhados nos olhos, e ali nos abrimos ao amor, a paixão, ao desejo... em um mundo de pressa, ousemos estudar e usufruir do poder de um olhar... Não segredo ou mentira diante dos olhos, não há sentimento guardado e não há confusão, basta apenas um olhar... E ai você saberá, que a única lembrança verdadeira que fica, foi aquele olhar que te arrastava, como o mar..."

Era um dia frio e agonia tomava conta de todo o meu ser, já não sabia onde eu começava e onde a agonia minha companheira termianva, acreditei que aquela tarde terminava dentro de mim e que a noite da minha alma ia aos poucos acalentando o meu silêncio, minha amiga solidão estava ao meu redor, e meu travesseiro chamava-se saudades... não você não estava aqui, como sempre sua ausência era o mais tenebroso de todos os fantasmas, eram apenas paredes, teto e eu, eu esse profundo ser que passou a se denominar tu, desde o momento em que te tive nos meus braços pela primeira vez...

Eu já não tinha os sonhos infantis de menina, eu já não tinha a ousadia tipíca de um coração nunca ferido, eu não, eu era calejada pelo tempo, era dona das minhas próprias palavras, do meu próprio mundo e dona do meu próprio corpo e há muito tinha a certeza que me possui, até o momento que você entrou na minah vida, e me fez ver que meus conceitos, são meramente conceitos e não modelo de vida!

Apesar da distância, seu olhar me possui, e seu cheiro me deixava embreagada como quem toma um copo do mais saboroso vinho, doce e fino, sedutor e malditamente viciante... Volta  para meus braços, entra no meu coração, aquece esse frio que consegue me congelar interna e externamente, a temperatura lá fora não é nada em comparação com aquela do meu coração... Estou nos Alpes, estou no meio do mar do atlantico norte, estou simplesmente longe de você, esperando você chegar, você entrar e me mostrar que o frio nada mais é do que a ausência do seu calor... Era um dia frio, a noite vem caindo, e você não esta aqui!